No jornal 0 'Público' de hoje foi publicado na secção Local um artigo da autoria da jornalista Inês Boaventura, ver reprodução acima ou aqui, que relata a visita que o vereador José Sá Fernandes promoveu para a comunicação social no dia anterior à reabertura do Jardim.
A notícia, que tenta ser o mais objectiva possível na mediatização da mensagem que o vereador pretende passar, enferma contudo de imprecisões que importa corrigir.
Começa a jornalista por referir 'Depois de mais de cinco meses de obra ...' na realidade mesmo que consideremos que a obra terminou hoje, coisa que está longe de se verificar, passaram-se exactamente não 5 mas sim 6 meses e 13 dias desde o início da obra. Ou seja, uma obra que foi adjudicada com base no critério preço, 80%, e prazo de execução, 20%, à empresa que menor custo, cerca de 380 mil euros, e menor tempo, 4 meses, apresentou, acabou por ser executada com um deslize temporal superior a 60%. Será aplicada à empresa alguma penalização por este tão significativo deslize?
Refere a jornalista, em seguida, reportando com certeza fielmente a mensagem dos responsáveis, que 'aqui não houve lugar à "recriação" mas tão-somente à "recuperação"...'. Ora qualquer observador mais atento verificará que recuperação, se a houve, ficou muito aquém do desejável. Um dos elementos mais emblemáticos da traça original do jardim, do séc. XIX, é a casa do jardineiro que está agora completamente abafada pela esplanada que aí foi edificada nos anos 80 do século passado. Ora esse elemento fundamental para a recuperação do traçado original do jardim não foi sequer tido em conta nesta intervenção.
Casa do Jardineiro/guarda do jardim.
Um outro equipamento que deveria ter sido recuperado, já que afinal se diz que de uma recuperação se trata, era o antigo banco de tabuinhas que tinha armação em ferro forjado com motivos fitomórficos. Ora os actuais bancos, ver foto, são os mesmos que existiam antes desta intervenção e que foram colocados no final do século passado, em lugar dos originais cujo paradeiro actual se desconhece.
Banco existente antes da intervenção; os actuais são os mesmos. O banco original tinha armação em ferro forjado.
'só não verá as melhorias quem tiver "memória curta".' terá dito o vereador. A memória fotográfica não é curta e é objectiva, e o que ela nos transmite é que o balanço entre as 'melhorias' e as 'piorias' é pouco abonatório para as primeiras. A não ser que se considere o calcetamento das duas áreas verdes a poente do jardim uma melhoria, ou o abate das 6 robínias que existiam em torno do lago e cuja preservação seria tão importante ter acautelado, ver aqui artigo de Susana Neves sobre essa espécie, outra melhoria, para nos ficarmos só por estes dois exemplos. A verdade é que só quem não tiver memória de todo é que considera ter sido o jardim na sua essência vegetal melhorado.
Uma das duas áreas verdes calcetada.
Abate de uma das 6 robínias que existiam à volta do lago.
"O chão estava todo esburacado" e era de um 'betuminoso preto'. Nem estava todo esburacado nem era preto. Uma ou duas fotos bastam para desmentir essa memória curta e excessiva.
O chão não era preto nem estava todo esburacado. © José Chamusco; foto tirada meses antes da intervenção.
O chão não era preto nem estava todo esburacado. © António Branco Almeida; foto tirada meses antes da intervenção.
O pavimento actual, que pretende ser um ersatz do pavimento original, tem as suas vantagens e as suas desvantagens. Entre estas últimas sobressai a tonalidade de um branco demasiado aberto, a desagregação da camada superior proporcionando a formação de poeiras em dias ventosos e a incrustação de vidros de difícil remoção. O que se passa no terreiro de S. Pedro de Alcântara, dotado de pavimento semelhante, é em relação a esta última desvantagem muito elucidativo.
Prossegue o vereador na enumeração das supostas melhorias apontando a nova iluminação como uma delas em lugar da 'horrorosa' iluminação anterior. Não pondo em causa a deficiente iluminação anterior não podemos deixar de chamar a atenção para o facto de aqui se ter perdido mais uma oportunidade para um verdadeiro restauro. Os actuais candeeiros são uma imitação grosseira dos originais, além de serem demasiado altos. Segundo julgamos saber, a CML até dispõe de candeeiros antigos e semelhantes aos originais que existiam no jardim, pelo que além de efectuar um verdadeiro restauro teria poupado muito dinheiro.
A substituição da iluminação, da maneira como foi feita, foi um dos trabalhos que mais danos provocou na vegetação arbórea ao abrirem-se roços profundos rente às árvores.
Para a instalação eléctrica abriram-se roços profundos rente às árvores.
"Não se desvirtuou nada", assegura Sá Fernandes, segundo quem esta deverá ser, aliás, considerada uma obra "exemplar" em termos de preservação patrimonial.' Gaba-te cesto. Esta não é exactamente a opinião de muitos ilustres arquitectos paisagistas e outros especialistas do património, nem será a de quem, não sendo especialista, teve o cuidado de acompanhar a obra e confrontar os processos usados com os preconizados na Carta de Florença.
O restante da notícia refere o restauro do parque infantil e a questão das árvores abatidas e das árvores repostas. Sobre o parque infantil chamamos só a atenção para o 'post' que pode ser consultado aqui.
Sobre as árvores abatidas e as que foram plantadas para as substituir. O vereador José Sá Fernandes já desistiu de defender a tese que foi avançada pelos seus serviços para justificar o abate sistemático das árvores de alinhamento e o das 9+1 árvores do interior do jardim, tese segundo a qual as árvores estavam todas doentes, podres, ou tinham crescido mal.
A absurdidade e perniciosidade de tais abates já foi por nós aqui neste blogue e em outros fora e meios de comunicação sobejamente tratada e demonstrada.
Quanto às novas árvores. De referir só duas coisas. Os lódãos estiveram meses a fio com as raízes não resguardadas, ao relento, antes de finalmente serem plantados. Em muitos deles já se verificam os efeitos desse desleixo inqualificável. A tília que foi plantada junta à estátua a Antero de Quental, está morta. As quatro liquidambares plantadas dias antes da reabertura apresentam já sinais de que dificilmente vingarão.
No interior do jardim foram abatidas 10 árvores e repostas 4, das quais nem todas vingarão. O vereador José Sá Fernandes em diversas ocasiões referiu que as árvores abatidas iriam ser todas elas repostas e seriam até plantadas mais árvores do que as existentes à data da intervenção.
Ficamos então à espera de ver quando, como e que espécies serão plantadas no interior do jardim para colmatar o actual deficit.
Tília plantada há cerca de um mês. Está morta.
Liquidambar plantado dias antes da reabertura. Está meio morto.
Incompetência, incompetência, incompetência,.. Neste momento não me ocorrem mais palavras...
ResponderEliminar