sábado, 22 de maio de 2010

Notícia no 'Público'






No jornal 0 'Público' de hoje foi publicado na secção Local um artigo da autoria da jornalista Inês Boaventura, ver reprodução acima ou aqui, que relata a visita que o vereador José Sá Fernandes promoveu para a comunicação social no dia anterior à reabertura do Jardim.
A notícia, que tenta ser o mais objectiva possível na mediatização da mensagem que o vereador pretende passar, enferma contudo de imprecisões que importa corrigir.
Começa a jornalista por referir 'Depois de mais de cinco meses de obra ...' na realidade mesmo que consideremos que a obra terminou hoje, coisa que está longe de se verificar, passaram-se exactamente não 5 mas sim 6 meses e 13 dias desde o início da obra. Ou seja, uma obra que foi adjudicada com base no critério preço, 80%, e prazo de execução, 20%, à empresa que menor custo, cerca de 380 mil euros, e menor tempo, 4 meses, apresentou, acabou por ser executada com um deslize temporal superior a 60%. Será aplicada à empresa alguma penalização por este tão significativo deslize?
Refere a jornalista, em seguida, reportando com certeza fielmente a mensagem dos responsáveis, que 'aqui não houve lugar à "recriação" mas tão-somente à "recuperação"...'. Ora qualquer observador mais atento verificará que recuperação, se a houve, ficou muito aquém do desejável. Um dos elementos mais emblemáticos da traça original do jardim, do séc. XIX, é a casa do jardineiro que está agora completamente abafada pela esplanada que aí foi edificada nos anos 80 do século passado. Ora esse elemento fundamental para a recuperação do traçado original do jardim não foi sequer tido em conta nesta intervenção.

Casa do Jardineiro/guarda do jardim.

Um outro equipamento que deveria ter sido recuperado, já que afinal se diz que de uma recuperação se trata, era o antigo banco de tabuinhas que tinha armação em ferro forjado com motivos fitomórficos. Ora os actuais bancos, ver foto, são os mesmos que existiam antes desta intervenção e que foram colocados no final do século passado, em lugar dos originais cujo paradeiro actual se desconhece.

Banco existente antes da intervenção; os actuais são os mesmos. O banco original tinha armação em ferro forjado.

'só não verá as melhorias quem tiver "memória curta".' terá dito o vereador. A memória fotográfica não é curta e é objectiva, e o que ela nos transmite é que o balanço entre as 'melhorias' e as 'piorias' é pouco abonatório para as primeiras. A não ser que se considere o calcetamento das duas áreas verdes a poente do jardim uma melhoria, ou o abate das 6 robínias que existiam em torno do lago e cuja preservação seria tão importante ter acautelado, ver aqui artigo de Susana Neves sobre essa espécie, outra melhoria, para nos ficarmos só por estes dois exemplos. A verdade é que só quem não tiver memória de todo é que considera ter sido o jardim na sua essência vegetal melhorado.

Uma das duas áreas verdes calcetada.


Abate de uma das 6 robínias que existiam à volta do lago.

"O chão estava todo esburacado" e era de um 'betuminoso preto'. Nem estava todo esburacado nem era preto. Uma ou duas fotos bastam para desmentir essa memória curta e excessiva.

O chão não era preto nem estava todo esburacado. © José Chamusco; foto tirada meses antes da intervenção.

O chão não era preto nem estava todo esburacado. © António Branco Almeida; foto tirada meses antes da intervenção.

O pavimento actual, que pretende ser um ersatz do pavimento original, tem as suas vantagens e as suas desvantagens. Entre estas últimas sobressai a tonalidade de um branco demasiado aberto, a desagregação da camada superior proporcionando a formação de poeiras em dias ventosos e a incrustação de vidros de difícil remoção. O que se passa no terreiro de S. Pedro de Alcântara, dotado de pavimento semelhante, é em relação a esta última desvantagem muito elucidativo.

Prossegue o vereador na enumeração das supostas melhorias apontando a nova iluminação como uma delas em lugar da 'horrorosa' iluminação anterior. Não pondo em causa a deficiente iluminação anterior não podemos deixar de chamar a atenção para o facto de aqui se ter perdido mais uma oportunidade para um verdadeiro restauro. Os actuais candeeiros são uma imitação grosseira dos originais, além de serem demasiado altos. Segundo julgamos saber, a CML até dispõe de candeeiros antigos e semelhantes aos originais que existiam no jardim, pelo que além de efectuar um verdadeiro restauro teria poupado muito dinheiro.
A substituição da iluminação, da maneira como foi feita, foi um dos trabalhos que mais danos provocou na vegetação arbórea ao abrirem-se roços profundos rente às árvores.

Para a instalação eléctrica abriram-se roços profundos rente às árvores.

"Não se desvirtuou nada", assegura Sá Fernandes, segundo quem esta deverá ser, aliás, considerada uma obra "exemplar" em termos de preservação patrimonial.' Gaba-te cesto. Esta não é exactamente a opinião de muitos ilustres arquitectos paisagistas e outros especialistas do património, nem será a de quem, não sendo especialista, teve o cuidado de acompanhar a obra e confrontar os processos usados com os preconizados na Carta de Florença.
O restante da notícia refere o restauro do parque infantil e a questão das árvores abatidas e das árvores repostas. Sobre o parque infantil chamamos só a atenção para o 'post' que pode ser consultado aqui.
Sobre as árvores abatidas e as que foram plantadas para as substituir. O vereador José Sá Fernandes já desistiu de defender a tese que foi avançada pelos seus serviços para justificar o abate sistemático das árvores de alinhamento e o das 9+1 árvores do interior do jardim, tese segundo a qual as árvores estavam todas doentes, podres, ou tinham crescido mal.
A absurdidade e perniciosidade de tais abates já foi por nós aqui neste blogue e em outros fora e meios de comunicação sobejamente tratada e demonstrada.
Quanto às novas árvores. De referir só duas coisas. Os lódãos estiveram meses a fio com as raízes não resguardadas, ao relento, antes de finalmente serem plantados. Em muitos deles já se verificam os efeitos desse desleixo inqualificável. A tília que foi plantada junta à estátua a Antero de Quental, está morta. As quatro liquidambares plantadas dias antes da reabertura apresentam já sinais de que dificilmente vingarão.
No interior do jardim foram abatidas 10 árvores e repostas 4, das quais nem todas vingarão. O vereador José Sá Fernandes em diversas ocasiões referiu que as árvores abatidas iriam ser todas elas repostas e seriam até plantadas mais árvores do que as existentes à data da intervenção.
Ficamos então à espera de ver quando, como e que espécies serão plantadas no interior do jardim para colmatar o actual deficit.

Tília plantada há cerca de um mês. Está morta.

Liquidambar plantado dias antes da reabertura. Está meio morto.



1 comentário:

  1. Incompetência, incompetência, incompetência,.. Neste momento não me ocorrem mais palavras...

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