Cara(o)s Amigas(os) do Príncipe Real,
No meio desta torrente de mensagens, não sei se haverá olhos para este escrito que, ainda por cima, nada tem a ver com comunicações sociais e similares.
Porém, arrisco. Mais uma vez:
Sempre. Sempre defendi que os pormenores são muito importantes, quer no trabalho, quer na vida. E quanto a estes, reporto-me aqui às nomenclaturas ou designações.
Um ror de indivíduos titulares na nossa administração pública, a soldo do (nosso) erário público passa as suas 24 horas diárias a tramar esquemas, artifícios e truques que engodem ou iludam o cidadão de boa-fé no sentido de o levar a morder o isco da fantasia e a cair no saco dos crédulos reconhecidos. Os objectivos ocultos e sinuosos destas intrujices abarcam normalmente dois tipos de lucro ou dividendos: o material, imediato e restrito quanto a beneficiários, e o político-partidário, mais lato e reforçador do seu establishment e crédito.
De entre as artimanhas usadas e no âmbito das obras públicas, desde há alguns anos que aqueles têm vindo a parir, subtilmente, novas designações para a face pública das suas intervenções físicas na urbe, adulterando os formulários e os conceitos técnicos de sempre em benefício de uma propaganda sedutora e de uma mentalização popular errónea. Tudo isto, sob o silêncio cúmplice e prostituído das elites gestoras das organizações/corporações técnico-profissionais da área (também estas já, maioritariamente, sob o domínio partidário).
Do que ao nosso caso respeita, sobressaem dois termos designativos, adoptados pela Câmara Municipal de Lisboa (e, suponho, pela Junta de Freguesia das Mercês).
São eles: Requalificação e Mobiliário.
Ora, não há projectos técnicos de Requalificação! Há projectos técnicos de Construção, de Remodelação, de Ampliação, de Reconstrução, de Reconversão e de Reabilitação. E há intervenções de Restauro e Conservação, elevadas a projecto ou não.
Estar a propagandear uma acção técnica futura como requalificação é estar a antecipar um pendor avaliativo e qualificativo a um produto que ainda não se conhece nem existe e que – sendo público – só a jusante, quando concluído e fruído poderá vir a merecer tal apodo pelo cidadão comum e utente ou, mesmo, pela comunidade em geral. Acontece é que, normalmente, estas obras resultam na TRANSFIGURAÇÃO do objecto das mesmas.
Mas, os tais indivíduos apostam na mentalização prévia do povaréu...
O Jardim do Príncipe Real não tem, nem nunca teve, mobiliário. Nele, só a extinta bibliotecazinha que, debaixo do Cedro do Buçaco, era guarnecida com uma dezena de cadeiras metálicas ligeiras. Porém, aquele estranho “restaurante” incrustado na área do jardim – talvez motel, qualquer dia – já terá algum mobiliário.
O que o Jardim do Príncipe Real tem é equipamento!
Equipamento fixo ou encastrado. Construído ou não no local.
O(s) bebedouro(s), os bancos, os recipientes do lixo, as mesas dos seniores, os escorregas e baloiços dos miúdos(as), as protecções metálicas dos canteiros, o pavilhão do jardineiro, etc., constituem o EQUIPAMENTO deste jardim.
Mobiliário é um conjunto de móveis. Ou seja, por definição etimológica, um conjunto de peças utilitárias mudáveis, alteráveis, inconstantes, volúveis.
O sofisma da designação por mobiliário, em vez de por equipamento é fácil de desmontar:
O uso do termo Mobiliário cria e acomoda na cabeça do cidadão o conceito figurinista de inovação, de criação, de evolução e de substituição habitual. E, de facto, uma das dezenas (?) de empresas satélites da C. M. L. está vocacionada para o negócio da substituição sistemática e atenta do habilmente designado “mobiliário urbano” de Lisboa (que também não existe)...
Portanto, Caros Amigos do Príncipe Real: NÃO ALINHEMOS COM ELES!
Alinhar nestes léxicos e conceitos é alimentarmos mais um esquema deles. É contribuirmos para reconhecer um ambiente translúcido, como suporte das nossas diligências.
O que, de facto, se vê acontecer no nosso Jardim é uma obra de Reconstrução ou de Remodelação.
O que é MAU!
O meu pedido de desculpas por este incómodo.
José Chamusco, Arquitecto.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
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Qual pedido de desculpas, muito bem dito!
ResponderEliminarTotalmente de acordo em relação á "requalificação" é uma palavra de um pretenciosismo descarado.
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