sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Os nomes das coisas!

Cara(o)s Amigas(os) do Príncipe Real,

No meio desta torrente de mensagens, não sei se haverá olhos para este escrito que, ainda por cima, nada tem a ver com comunicações sociais e similares.
Porém, arrisco. Mais uma vez:
Sempre. Sempre defendi que os pormenores são muito importantes, quer no trabalho, quer na vida. E quanto a estes, reporto-me aqui às nomenclaturas ou designações.
Um ror de indivíduos titulares na nossa administração pública, a soldo do (nosso) erário público passa as suas 24 horas diárias a tramar esquemas, artifícios e truques que engodem ou iludam o cidadão de boa-fé no sentido de o levar a morder o isco da fantasia e a cair no saco dos crédulos reconhecidos. Os objectivos ocultos e sinuosos destas intrujices abarcam normalmente dois tipos de lucro ou dividendos: o material, imediato e restrito quanto a beneficiários, e o político-partidário, mais lato e reforçador do seu establishment e crédito.
De entre as artimanhas usadas e no âmbito das obras públicas, desde há alguns anos que aqueles têm vindo a parir, subtilmente, novas designações para a face pública das suas intervenções físicas na urbe, adulterando os formulários e os conceitos técnicos de sempre em benefício de uma propaganda sedutora e de uma mentalização popular errónea. Tudo isto, sob o silêncio cúmplice e prostituído das elites gestoras das organizações/corporações técnico-profissionais da área (também estas já, maioritariamente, sob o domínio partidário).
Do que ao nosso caso respeita, sobressaem dois termos designativos, adoptados pela Câmara Municipal de Lisboa (e, suponho, pela Junta de Freguesia das Mercês).
São eles: Requalificação e Mobiliário.

Ora, não há projectos técnicos de Requalificação! Há projectos técnicos de Construção, de Remodelação, de Ampliação, de Reconstrução, de Reconversão e de Reabilitação. E há intervenções de Restauro e Conservação, elevadas a projecto ou não.
Estar a propagandear uma acção técnica futura como requalificação é estar a antecipar um pendor avaliativo e qualificativo a um produto que ainda não se conhece nem existe e que – sendo público – só a jusante, quando concluído e fruído poderá vir a merecer tal apodo pelo cidadão comum e utente ou, mesmo, pela comunidade em geral. Acontece é que, normalmente, estas obras resultam na TRANSFIGURAÇÃO do objecto das mesmas.
Mas, os tais indivíduos apostam na mentalização prévia do povaréu...

O Jardim do Príncipe Real não tem, nem nunca teve, mobiliário. Nele, só a extinta bibliotecazinha que, debaixo do Cedro do Buçaco, era guarnecida com uma dezena de cadeiras metálicas ligeiras. Porém, aquele estranho “restaurante” incrustado na área do jardim – talvez motel, qualquer dia – já terá algum mobiliário.
O que o Jardim do Príncipe Real tem é equipamento!
Equipamento fixo ou encastrado. Construído ou não no local.
O(s) bebedouro(s), os bancos, os recipientes do lixo, as mesas dos seniores, os escorregas e baloiços dos miúdos(as), as protecções metálicas dos canteiros, o pavilhão do jardineiro, etc., constituem o EQUIPAMENTO deste jardim.
Mobiliário é um conjunto de móveis. Ou seja, por definição etimológica, um conjunto de peças utilitárias mudáveis, alteráveis, inconstantes, volúveis.
O sofisma da designação por mobiliário, em vez de por equipamento é fácil de desmontar:
O uso do termo Mobiliário cria e acomoda na cabeça do cidadão o conceito figurinista de inovação, de criação, de evolução e de substituição habitual. E, de facto, uma das dezenas (?) de empresas satélites da C. M. L. está vocacionada para o negócio da substituição sistemática e atenta do habilmente designado “mobiliário urbano” de Lisboa (que também não existe)...

Portanto, Caros Amigos do Príncipe Real: NÃO ALINHEMOS COM ELES!
Alinhar nestes léxicos e conceitos é alimentarmos mais um esquema deles. É contribuirmos para reconhecer um ambiente translúcido, como suporte das nossas diligências.

O que, de facto, se vê acontecer no nosso Jardim é uma obra de Reconstrução ou de Remodelação.
O que é MAU!

O meu pedido de desculpas por este incómodo.
José Chamusco, Arquitecto.

2 comentários:

  1. Qual pedido de desculpas, muito bem dito!

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  2. Totalmente de acordo em relação á "requalificação" é uma palavra de um pretenciosismo descarado.

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