quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Publicamos hoje dois importantes documentos. O primeiro é um relatório do Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida do Instituto de Agronomia datado de 5 deJaneiro de 2010 sobre o estado de 9 das árvores de alinhamento ainda em pé na orla Oeste do Jardim. O segundo é a acta de uma reunião havida a 2 de Dezembro de 2009 entre técnicos da Autoridade Florestal Nacional, a CML e o empreiteiro.
Porque é que estes documentos são tão importantes e interessantes?
O relatório do LPVVA evidencia, implicitamente, que a CML só solicitou a intervenção dessa entidade independente para a avaliação do estado fitossanitário das árvores do Jardim, muito tardiamente - os trabalhos de campo são de 14 de Dezembro - e após o abate de 49 árvores. Mais, das 9 árvores vistoriadas o LPVVA só considera duas como apresentando perigosidade alta e isso devido às más podas efectuadas pela própria CML. Se extrapolarmos a proporção de árvores que apresentam riscos de queda, 2/9,  para as 49 já abatidas, chegaríamos à conclusão que só 11 dessas 49 abatidas estariam com problemas, contrariamente ao afirmado pela vereação: estavam todas doentes, ou, mais tarde, 2/3 estavam doentes.
Um outro aspecto que convém salientar no relatório do LPVVA é a chamada de atenção para o perigo que o trabalho em curso com máquinas pesadas e a abertura de valas representa para a saúde das árvores que ainda subsistem no Jardim, incluindo as árvores classificadas.  Este aspecto é um dos mais gravosos que esta "requalificação" irá provocar no futuro próximo e para o qual já várias vezes alertamos quem de direito.
Quanto à acta entre a AF, a CML e o empreiteiro: essa acta mostra também, implicitamente, que só a 2 de Dezembro, ou seja, mais de um mês após o início da obra, a AFN se desloca ao local para averiguar in loco a intervenção em curso.

 

  

  

  

  

 

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3 comentários:

  1. Com a publicação destes dos dois documentos relativos à "parte vegetal", ocorrem-me (sem prejuízo do seu posterior desenvolvimento) os seguintes comentários:

    Relatório do Laboratório:

    Primeiro: Então há duas árvores que representam perigo nas 13 que faltam abater das 60 que o projecto inicial marcou para abate?

    Onde está o relatório idêntico relativamente às que foram abatidas? Pela leitura do relatório parece que a principal razão de ser do abate são as consequências para as árvores da própria "requalificação"! Estou a ler bem? Mas essas árvores estavam - como as outras marcadas para abate desde o início!!! (consequência prevista de uma intervenção que considerou ser desnecessário o estudo prévio de impacto ambiental e que terá juntado ao projecto declaração nesse sentido?)

    Segundo: Parece que o relatório afirma que as restantes árvores que não representam perigo, necessitam de "manutenção" (ver última plante e respectiva legenda). Manutenção? é abate?!!. Outra questão: Se a origem dos problemas daquelas árvores foi uma má manutenção anterior, quem fez essa manutenção serão por acaso os mesmos que agora as vão abater, para não as ter de manter mais?

    Terceiro: Olhando para o mapa das árvores do Príncipe Real e lendo este Relatório parece evidente que nem todas as árvores de alinhamento eram choupos negros (populus nigra), a maior parte era de uma espécie que corresponde, por exemplo, a uma árvore classificada como de interesse público (pupulis canadensis, na Quinta dos Lilases, sobre o qual fala positivamente a própria Câmara Municipal de Lisboa, pode ler-se aqui), que nem todas as "árvores de alinhamento" estavam doentes; e que algumas delas não podem ser substituídas por outras iguais porque simplesmente a sua replantação está proibida (o que não acontece com a sua conservação que não só não é proibida como corresponde a um dever de conservação do património existente). Ora se sob a designação de "árvores de alinhamento" se queria significar "todas as árvores que fazem a muralha de árvores que é o exterior do jardim, como justificar que não tenha sido aqui seguido o mesmo padrão de intervenção do já invocado (insuspeito e respeitado por todos) Arq.to Ribeiro Telles, que na Gulbenkian foi procedendo à substituição gradual dos choupos de modo a não eliminar de uma vez a função de de barreira que aquelas árvores desempenham relativamente ao interior do jardim?

    Acta de reunião com a Autoridade Florestal Nacional

    Este é grave! Ainda mais grave! Então a AFN que deveria ter sido tão consultada - no mínimo - como foi o IGESPAR, tomando conhecimento no dia 2 de Dezembro de que fora preterida e de que grande parte da intervenção num jardim com quatro árvores classificadas como de interesse público ocorrera sem que esta entidade se pronunciasse e garantisse a posterior fiscalização dos trabalhos, o que faz (e dia) é que vai elaborar um relatório? Perante a ilegalidade cometida, da sua não consulta prévia, da não emissão de um parecer da sua parte, o que faz é ir lá no dia 2 de Dezembro e prometer um relatório, quando a lei lhe dá os poderes/deveres de embargar de imediato a obra até que a possa avalizar?

    Palavras para quê (do anúncio do outro tempo) somos todos uns artistas (Portugueses), mas já não usamos a pasta medicinal Couto.

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  2. Caros amigos,

    Esta situação merecia um comentário mais detalhado da minha parte. No entanto, e de momento, quero apenas, em meu nome e da Associação Árvores de Portugal, deixar-vos um incentivo e dar-vos os parabéns por este exemplo de cidadania participativa e de coragem cívica.

    Onde outros se demitem, saúde-se esta coerência e firmeza de princípios na defesa do nosso património público.

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  3. Caro Nuno Teixeira Santos, pela parte que me toca o meu obrigado às suas palavras que constituem um verdadeiro incentivo.

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